sábado, 16 de fevereiro de 2008

Meditação para o Primeiro Sábado de Março

“As ondas da morte me cercavam,
tragavam-me as torrentes infernais; na minha
angústia chamei pelo Senhor, de seu templo
ouviu a minha voz.”
(Sl 17, 5 ss).
Antífona de entrada, IV Sem.Quaresma.



Preparação: O mês de março se abre nas semanas finais da Quaresma, com a Semana Santa, e nos convida a contemplar os padecimentos do nosso Divino Redentor. Em união com o Imaculado Coração de nossa Mãe consumido pelo infortúnio, repleto de angústias e cravado na cruz com seu Divino Filho, mas com a alma inundados de Fé inabalável na certeza de que viria a aurora da Ressurreição; e de que o mundo chegaria até o momento que em Fátima Ela prenunciou: Por fim o meu Imaculado Coração Triunfará!


Introdução:
Vamos contemplar a oração de Jesus, reconstruindo e analisando com nossa imaginação o ambiente onde Nosso Senhor rezou. Ele acabara de instituir a Eucaristia, mistério de amor de Deus, saindo a seguir do cenáculo, com os onze Apóstolos cantando a Aleluia.
Caminhavam em direção ao vale da torrente do Cedron, à luz brilhante da lua nos começos da primavera. Havia uma sombra no ar; em silêncio, chegaram ao horto de Getsêmani, na ladeira ocidental do Monte das Oliveiras. Ao pararem ali, tornou-se evidente, que a tristeza que haviam notado no Senhor, tornara-se muito mais profunda: parecia sentir “pavor e abatimento”. Os Onze sentiam-se deprimidos e inquietos.
Jesus deixou oito deles à porta do horto e acenou para que Pedro, Tiago e João O acompanhassem, as três testemunhas de sua transfiguração no Tabor; entrou e subiu com dificuldade a ladeira ...Um tédio profundo e um horror imenso, junto a uma tristeza inimaginável, se apoderaram de sua alma a ponto de exclamar: “A minha alma está numa tristeza mortal, - disse Ele. - “Ficai aquí e vigiai”.


Oração Inicial: Oh! Mãe Santíssima, sois a co-redentora; vós que aparecestes em Fátima, e quisestes que os Primeiros Sábados fossem dedicados a Vós em reparação de Vosso Sapiencial e Imaculado Coração pelos pecados que a humanidade comete. Neste momento pedimos vosso amparo, proteção e vossa intercessão para obtermos graças sobre graças, afim de bem meditarmos sobre este tão importante mistério da vida de Vosso Divino Filho, e que na oração no horto das Oliveiras, os meus sentimentos e desejos sejam os vossos.
Minha Mãe, infundi em minha alma toda espécie de graças e virtudes de Vosso Divino Esposo, o Espírito Santo, para que saia desta meditação mais compenetrado de minha vocação de um verdadeiro batizado. Assim seja!

Ave Maria, cheia de graça,...



I - A oração de Jesus. “Retirou-se Jesus para um lugar chamado Getsêmani...”
(Mt 26, 36)
Ele está só e conversa com o Pai. As mais belas passagens do Evangelho são aquelas em que o Filho do Homem conversa com o Pai. É a oração perfeitíssima, a oração por excelência; a mais substanciosa é esta oração de Nosso Senhor no Horto
Ele se dirige ao Getsêmani, que significa vale riquíssimo, vale da superabundância. Fica junto ao Monte das Oliveiras — era um lugar usado pelos Apóstolos e por Ele, sobretudo para a oração. Alguns Apóstolos tinham um acesso facilitado àquele local. Era um horto, era um jardim, e dentro desse jardim havia umas grutas, e Nosso Senhor para ai se retira.
1 – Retirou-se.
Pensemos nisso. Nosso Senhor sabia que tinha chegado o momento, a hora de sua morte: Ele estava, portanto, diante do espectro terrível da morte. O que faz Ele antes de ser preso, para iniciar a sua Paixão?
Ele se recolhe e faz uma noite inteira de vigília, uma noite inteira de oração. Ele vai para um lugar retirado, onde costumava rezar. “Disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou alí rezar...”
Os apóstolos iam também passar por tomentos. Ele queria que os apóstolos mais débeis, os que não tinham assistidos a Transfiguração, descansassem, repousassem, porque a batalha que eles iam enfrentar seria tremenda.
Ele vai orar. Rezar é elevar a mente a Deus. Ora, Nosso Senhor tinha sua alma, desde o primeiro momento
de sua criação, na visão beatífica. Portanto, estava na presença de Deus contemplando-O.

2 - O que significava para Nosso Senhor a oração?

Ele enquanto Deus era igual ao Pai e está em união com o Pai.
Enquanto homem tem sua alma na visão beatífica. Significa que apesar de ser Deus, havia chegado o momento tão extraordinário, do cumprimento de sua missão; diante desse momento, Ele faz questão de rezar!
Para nos obter graças, pois todos passaremos pela morte. A morte é de destino de todos nós. Por mais que nos iludamos, por mais que freqüentemos os melhores médicos: alopatia ou homeopatas,
vitaminas, etc., por mais que tomemos, a morte dia a dia vai se aproximando.

3 - As ilusões da idade
Quando somos jovens, temos orgulho da pele que temos, de nossa face, dos olhos, etc.... veremos naquele espelho que não mente, pouco a pouco, a nossa fisionomia se enrugar; nossa pele que vai perdendo seu viço. E, de uma hora para outra, surgirá uma senhora implacável: a morte!
Assim, a razão pela qual Nosso Senhor retirou-Se, passou a rezar e entrou em agonia, foi para comprar-nos graças para este momento tão em que a alma se separa do corpo. Nada causa mais dor, do que em determinado momento, sentir nossa alma arrancando-se do corpo. Vemo-nos já sem forças, respirando com dificuldades e percebendo que o momento chegou: é a morte!!
Foi com vistas a obter-nos graças especialíssimas, que Ele foi ao horto das Oliveiras, e apesar de ser Deus, tinha assumido um corpo padecente como o nosso; foi rezar para obter forças para Si, porque também para Ele a morte significava uma dor. Sentiu medo, a ponto de dizer a Escritura:

“E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a
entristecer-se e a angustiar-se...” ( Mt 26, 38).

Quem não tem tristeza e angustia face a morte ?
É preciso que meditemos sobre este episódio de nossa vida; a morte. Viagem para a eternidade, uma viagem sem retorno, viagem com um salto que jamais volta atrás; é uma outra vida onde não existe mais relógio, nem aflições, (desde que se passe para a eternidade celeste). Deixaremos tudo para trás, inclusive o próprio corpo, que merece tantos cuidados nossos.
Ponto de reflexão: - Quantas horas perdidas diante de um espelho, quanto cuidado com este ou aquele aspecto nosso; tudo ficará enterrado sete palmos abaixo da terra ?

* * * * *
II- Agonia: Jesus bebe o cálice do sofrimento.

Ele faz a seguinte oração verdadeiramente comovedora:
“Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice”, mas não se faça como Eu quero e sim como Tu queres".


Na natureza humana dEle, evidentemente que ele se pergunta: que utilidade vai ter todo esse sacrifício pelo qual Eu vou passar, uma vez que há essa enormidade de pecado. Qual é a utilidade? Que utilidade tem o meu Sangue que Eu vou derramar? De que adiantará? E Ele se põe o problema: vale a pena?
Então faz uma oração toda ela feita de respeito, toda ela feita de resignação:
"Se, entretanto essa for a vossa Vontade, seja feita a vossa Vontade e não a minha”. E aí entra a caridade, Ele é a Caridade. Ele se levanta porque Ele está preocupado, depois de uma hora de oração, em saber como estão os Apóstolos, se eles não precisam de ajuda. E vai até eles, e os encontra dormindo.
Ele acorda um deles que é Pedro: "então, não pudestes vigiar uma hora coMigo? Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto mas a carne é fraca".
Ele diz a Pedro que é preciso antes de tudo vigiar e depois orar, porque se Ele dissesse só orar estaria sumamente incompleto.

1 – Porque não basta só rezar.
Um santo que seja de virtude comprovada durante toda a sua vida, um inocente, se este inocente só rezar e não vigiar, ele cai. Por quê? Porque não basta rezar.
Ponto de reflexão: é preciso estar atento! . O que leva ao pecado eu devo evitar porque o que não for evitar a ocasião próxima de pecado traz como conseqüência que só a oração não vai me manter, porque a minha natureza é débil e eu sou levado a ser arrastado por ela ainda que eu reze se não evitar a ocasião. Eu devo evitar as companhias que me fazem mal. Eu devo evitar as ocasiões próximas de pecado: os maus cartazes que ficam pelo meu caminho, as más leituras, um mau programa de televisão, uma má conversa. E, por isso é preciso vigiar, é preciso estar inteiramente aceso com os perigos, com os riscos.
Ele diz: ”permanecei aqui, e vigiai comigo”. Ele quer que se vigie. Mais do que incutir o espírito de oração, Ele incute o espírito de vigilância.

2 – Jesus transpira seu Preciosíssimo Sangue por nós!

Recolhamo-nos um pouco mais profundamente e contemplemos essa maravilha:
Jesus está a sós numa gruta no Horto das Oliveiras, e Ele com a grandeza dEle, com a majestade dEle se ajoelha e ora. O que aconteceu com Ele que é a nossa Cabeça, Cabeça do Corpo Místico, Cabeça da Igreja, acontece conosco também, pois temos também uma cruz para carregar. Ele, transpira Sangue! Tal é a meditação que Ele faz a respeito de todo sofrimento, de todo sacrifício, de tudo que é preciso da parte Dele, que que o Sangue embebe a terra.
Quando Adão e Eva no Paraíso pecaram, Deus amaldiçoou a Terra: "ganharás o pão com o suor de teu rosto". O suor de Adão, o suor de Eva derramou-se na terra que estava amaldiçoada. Essa mesma terra -- porque há uma lenda áurea, há uma fábula que conta que Adão e Eva estiveram trabalhando neste Horto das Oliveiras e ali deitando suor -- e nesta terra desceu o Sangue Preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo para arrancar a maldição da Terra e deitar ali sua bênção.
Então compreendemos a grande lição de Jesus no Horto das Oliveiras; ao nos ser apresentado o convite à resignação, sobretudo a aceitação da dor, do sofrimento, e até da derrota e do fracasso, se for preciso.
Alguém objetará: “É muito difícil resignar-se a carregar a dor por essa forma”. A resposta, nosso divino Salvador nos deu na Agonia do Horto; posto diante de todo o sofrimento que O aguardava, Ele disse ao Pai Eterno: “Se for possível, afaste-se,de mim este cálice. Mas seja feita a vossa vontade e não a minha”.
O resultado é que veio um Anjo consolar Nosso Senhor.
Essa é a posição que cada um de nós deve ter em face de suas próprias dores: se for possível, que elas sejam afastadas de meu caminho. Porém, seja feita a superior vontade de Deus e não a minha. E a exemplo do que ocorreu com Jesus no Horto, a graça nos consolará também, nas provações que Maria Santíssima nos enviar.

3 – Utilidade desta meditação.

Essa é uma meditação útil para nós. Para que nós compreendamos o quanto é necessário o sofrimento também para nós, porque na Missa nós veremos o sacerdote colocando uma gota de água,
um pouco de água no cálice, e essa gota de água significa o nosso sofrimento. E quanto é necessário que nós acompanhemos Nosso Senhor nesse e em todo transe de sua Paixão. E por isso ao
terminarmos essa meditação pedimos a Nossa Senhora graças especialíssimas e agradeçamos a Ela por ter-nos permitido estar aqui.




Oração Final

Ó Virgem Santíssima, Vós que fostes à companheira de Jesus à distância no Horto das Oliveiras. Vós que também acompanhastes passo a passo a Paixão e de forma especial esta oração por Ele feita no Horto, nós terminamos esta meditação oferecendo-a em desagravo ao vosso Sapiencial e Imaculado Coração por todas as faltas, por todos os crimes, por todos os horrores que se cometem no mundo hoje, outrora e até o fim do mundo. E Vos pedimos ó Mãe que nos deis sempre graças sobre graças para vivermos dentro desta perspectiva de quanto é necessário para mim também os sofrimentos, e quanto eu mesmo causei dores a Nosso Senhor em sua Paixão e especialmente nessa oração que Ele fez no Horto. Dai-nos ó Mãe a graça de confiar na Bondade dEle, na Misericórdia dEle que também é a vossa Bondade, a vossa Misericórdia, para o perdão de todas as minhas faltas. E dai-me a convicção de que, uma vez arrependido e pedindo perdão, que todas as minhas faltas me são perdoadas. Assim Seja!


Meditação pronunciada na Catedral da Sé de São Paulo, dia 7 de fevereiro de 2004 *
pelo Revmo. Pe. João Clá Dias. (texto com pequenas adaptações para linguagem escrita – sem revisão do autor).

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. Assim fica-se conhecendo os Arautos e sabendo como agem em sua região. Oxalá outras Casas pudessem fazer o mesmo, dando conta de sua atuação nas respectivas áreas em que vivem. PRABENS !

Otávio Cavalheiro

Anônimo disse...

Felicitaciones, mil felicitaciones.
Esta realmente muy bueno y educativo, eso muestra que se puede hacer apostolado con las propias herramientas que el mudo pagano nos da.
ESta mut reciente como para realizar comentarios más criticos.
Desde Chile, un fuer abrazo para los Caballeros, en esa hermosa ciudad. Que la Virgen los bendiga.


Superior Geral dos Arautos do Evangelho

Padre João Scognamiglio Clá Dias

Natural de São Paulo ingressou nas Congregações Marianas e também na Ordem Terceira do Carmo, sendo um ativo líder universitário católico nos anos que precederam a revolução da Sorbonne, de maio de 1968. Cursou Direito na prestigiosa Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo (sua cidade natal) prestou serviço militar na Companhia de Guardas, onde recebeu uma das maiores condecorações brasileiras por sua disciplina e aproveitamento: a “Medalha Marechal Hermes – Aplicação e Estudo”. Para os estudos teológicos aprimorou-se com os grandes catedráticos de Salamanca (Espanha), como o Pe. Arturo Alonso Lobo O.P., o Pe. Marcelino Cabreros de Anta C.M.F., o Pe. Victorino Rodríguez y Rodríguez O.P., o Pe. Esteban Gómez O.P., o Pe. Antonio Royo Marín O.P., o Pe. Teófilo Urdánoz O.P. e o Pe. Armando Bandera O.P. Divulgou anos depois as biografias de vários deles, com edições na Espanha e nos Estados Unidos: “Antonio Royo Marín, mestre de espiritualidade, brilhante pregador e famoso escritor”, “Pe. Cabreros de Anta CMF, firme pilar do Direito Canônico em nosso século”, etc…
Em 1970 iniciou uma experiência de vida comunitária a fim de melhor se dedicar ao apostolado, em um antigo imóvel beneditino, em São Paulo. O movimento de evangelização se desenvolveu a ponto de ser reconhecido pela Santa Sé em 2001, como uma Associação Internacional de Direito Pontifício, os Arautos do Evangelho, que hoje estende suas atividades a 57 países.
Em todos os ambientes nos quais atuou, o Pe. João Clá destacou-se por seu testemunho de fé, sempre vivida e transmitida com alegria. Dotado de admirável oratória, proferiu palestras em vários auditórios da Europa e das Américas, demonstrando habilidade em infundir nos corações o entusiasmo para as verdades da Fé, o ânimo para a prática das virtudes e a certeza da vitória da Santa Igreja Católica na guerra contra o materialismo, o hedonismo e o relativismo dos nossos dias.

Seu ardente desejo de evangelizar moveu-o a escrever obras que tiveram grande divulgação, com tiragens de centenas de milhares de cópias (chegando algumas a superar um milhão de exemplares), publicadas em português, espanhol, inglês, italiano, francês, polonês e albanês: “Fátima, aurora do terceiro milênio”, “O Rosário, a oração da paz”, “Sagrado Coração de Jesus, tesouro de bondade e de amor”, “Medalha Milagrosa, história e celestiais promessas”, “Via Sacra”, “Jacinta e Francisco, prediletos de Maria”, “Os Mistérios Luminosos do Rosário”, “Orações para o dia-a-dia” e outras. Três livros devem ser mencionados em especial pelos trabalhos prévios de pesquisa: “Mãe do Bom Conselho”, “Dona Lucília” e “Comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição”.
É membro, dentre outras, da Sociedade Internacional Tomás de Aquino e da Academia Marial de Aparecida. Foi condecorado em diversos países por sua atividade cultural e científica, recebendo, por exemplo, a Medalha de Ciências do México. Desde 2002 tem publicado regularmente os comentários ao Evangelho, na revista Arautos do Evangelho, com edições em português, espanhol e italiano.

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